Fique Sempre Atualizado ! Cadastre-se: E Receba as Novidades do Site em seu e-mail.

ALOÍSIO TEIXEIRA - REITOR DA UFRJ DEFENDE O ENEM E COTAS PARA ALUNOS DA REDE PÚBLICA

Por Ana Paula Verly

No que depender da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os alunos da rede pública estadual de ensino terão um futuro brilhante pela frente. O Conselho Universitário (Consuni) aprovou o sistema de cotas, que destina, já no Vestibular 2011, 20% das vagas a estudantes provenientes de escolas estaduais e municipais do Rio de Janeiro, assim como da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec). O próximo passo é aprovar, na próxima quinta-feira, 26 de agosto, um pacote de incentivos para que esses jovens não desistam dos estudos.

Nesta entrevista, o reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, explica por que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a melhor alternativa para começar a democratizar a educação de nível superior no país: “Ao fazermos esses experimentos, nós não perdemos a consciência de que a luta é para expandir a universidade, para que todos possam ter acesso a ela e para que ela possa se tornar um direito da cidadania”.


Conexão Aluno (CA) – Qual é a importância do Enem?

Aloísio Teixeira –
 A possibilidade de se fazer uma prova nacional de ingresso nas universidades públicas federais é um passo gigantesco para eliminarmos um mecanismo de exclusão, que era o vestibular. Ele trazia consigo várias distorções do ponto de vista didático-pedagógico. Todos os educadores brasileiros que pensavam esta questão do acesso à educação superior perceberam a importância dessa mudança que foi feita. Nós, da UFRJ, temos uma situação muito peculiar, porque mais de 60% dos estudantes que se inscreviam nos vestibulares da universidade eram provenientes de escolas particulares privadas. E a gente sabe que 80% dos jovens cursam o Ensino Médio em escolas públicas. A maior parte dos jovens que se formava no Ensino Médio sequer se candidatava ao vestibular da UFRJ. Com o ENEM, eles são todos automaticamente candidatos. Só isso é um passo formidável que a gente está dando para democratizar o acesso.


CA – Qual era a principal falha do vestibular tradicional?

Aloísio Teixeira – 
Ele acabava exigindo um tipo de preparação que não é disponibilizada nas escolas de um modo geral. Daí a necessidade do cursinho e de escolas com nível melhor, que proporcionavam essa formação mais específica. Isso distorcia a avaliação para o acesso, porque o estudante comum não adquiria esse conhecimento nas escolas. Eu entendo que a universidade é para quem fez o Ensino Médio e não para aqueles que possam ter acesso a uma preparação específica, que custa caro. O vestibular acabava fazendo uma seleção muito mais por renda do que por mérito.


CA – Como será a seleção deste ano? 

Aloísio Teixeira – 
A nossa proposta visa exclusivamente ao ano de 2011. Há uma discussão em curso na UFRJ que vai continuar e, em algum momento, nós chegaremos a uma proposta com horizontes mais largos de aplicação. No entanto, como o conselho universitário queria ações no curto prazo, nós fizemos uma proposta para o ano que vem. Estamos propondo que parte dos alunos entre pelo vestibular convencional e parte pelo Enem, para ficar claro que não há diferença entre esses dois universos de estudantes, do ponto de vista de qualificação para se cursar uma universidade.

Estaremos fazendo o nosso vestibular de tal forma que os resultados sejam conhecidos antes da inscrição no Sisu. Nós teremos dois conjuntos diferentes de jovens: um selecionado pelo vestibular e outro pelo Sisu, em todos os cursos da universidade. A universidade poderá confirmar por si mesma que o jovem que fez o Ensino Médio, foi qualificado na prova do Enem e ingressou pelo Sisu é perfeitamente capaz de cursar uma universidade. A gente tem interesse em manter os dois sistemas para fazer a comparação entre eles.


CA – Como será a distribuição das vagas?

Aloísio Teixeira –
 Serão 40% para o vestibular, semelhante ao que a UFRJ faz todos os anos, com provas discursivas, em duas rodadas; 40% pelo Enem; e 20% para cotas, que serão para candidatos que fizeram o Enem e se inscreveram pelo Sisu, mas que também tenham cursado o Ensino Médio integralmente em escolas da rede pública estadual ou municipal do Rio de Janeiro, além da Faetec. As escolas federais, os colégios de aplicação e os colégios militares não vão entrar nas cotas.


CA – Por que decidiram abandonar o corte de renda?

Aloísio Teixeira –
 A proposta da reitoria contemplava só o corte de renda. Depois nós evoluímos para uma proposta que privilegiasse o estudante das redes públicas. E com a finalidade de garantir que nas redes públicas a gente estaria selecionando jovens provenientes de famílias de renda mais baixa, nós combinamos escolas públicas com renda. Agora nós demos outro passo: ao invés de fazer o corte por renda, vamos excluir os colégios federais. Com isso, a gente garante o direcionamento da nossa proposta para aquilo que consideramos o mais importante, que é a valorização da rede púbica estadual.


CA – Como será o perfil dos próximos calouros? 

Aloísio Teixeira – 
O perfil do estudante que vai entrar pura e simplesmente pelo Enem será bastante semelhante ao perfil do estudante que entrará pelo vestibular. A mudança de perfil acontecerá entre os estudantes que vão entrar na cota de 20% das escolas públicas estaduais. 


CA – Quais devem ser os cursos mais procurados?

Aloísio Teixeira –
 A cota de 20% incluirá todos os cursos da UFRJ. Atualmente, oferecemos vagas em cerca de 160 cursos. Alguns deles são chamados “cursos de alta demanda”, como, por exemplo, medicina, odontologia, engenharia e administração. Nesses cursos, a participação de jovens que fizeram o ensino pré-universitário na rede pública estadual é muito pequena. Geralmente os aprovados vêm das boas escolas públicas, como os colégios de aplicação e o Pedro II, ou das boas escolas particulares, como o Santo Inácio o Santo Agostinho.

A cota para a rede pública estadual será uma experiência muito importante. Na verdade, o número de vagas no Ensino Superior é pequeno para o tamanho do país e as dimensões da população brasileira. Então, acho que essa orientação vai garantir que, mesmo nesses cursos mais elitizados, teremos estudantes que fizeram o Ensino Médio na rede pública estadual.

Por outro lado, há cursos que já se popularizaram. Neles, há um percentual alto de estudantes provenientes da rede pública estadual e de famílias de baixa renda. Nesses cursos, não vai haver uma mudança muito grande no perfil do aluno que frequenta as aulas. Mas em cursos de alta demanda, sim. Aí vai haver uma experiência.


CA – Quais incentivos serão oferecidos aos alunos das cotas?

Aloísio Teixeira –
 O nosso interesse é que esse estudante entre na universidade e dê certo. Que ele tenha sucesso escolar e venha a se formar na UFRJ. Para isso, ao mesmo tempo em que aprovamos esta proposta, aprovamos também uma série de medidas de apoio aos estudantes que vão entrar pelo critério diferenciado, para que eles possam fazer os seus cursos tranquilamente.

A assistência estudantil inclui uma bolsa, que hoje é de R$ 360 e para o ano que vem deve subir um pouco; um bilhete único gratuito para uso no sistema de transportes; apoio na área de informática, com notebooks à disposição, redes wireless e laboratório de informática; bibliotecas; e apoios especiais em cursos que são caros para o estudante, como o de odontologia, por exemplo. Também vamos produzir mecanismos de apoio acadêmico.

Nas disciplinas com alta taxa de reprovação nos primeiros períodos, vamos fazer um programa específico para que esse estudante tenha aulas de reforço, oficinas, monitores, tutores e professores envolvidos nisso. A ideia é que, nem pelo lado acadêmico nem pelo lado das condições de vida e renda, esse estudante venha a abandonar o curso. Isso é um diferencial da nossa proposta em relação a outras propostas que vi por aí: ela não apenas contempla o ingresso diferenciado, como traz consigo uma série de benefícios que permitirão ao estudante cursar as disciplinas com menos problemas. O MEC disponibilizou R$ 14 milhões para a assistência estudantil em 2011. Além disso, vamos colocar recursos próprios na universidade para que esses programas tenham êxito.


CA – Qual é a opinião do senhor em relação às universidades que ainda não adotaram esse sistema?

Aloísio Teixeira – 
Pessoalmente, acho que o sistema de cotas não é o ideal. Ao segmentar os jovens na procura por vagas, ele acaba estimulando uma competição dentro de cada grupo. O jovem que fez a escola pública estadual vai disputar uma vaga com um jovem que fez escola pública estadual junto com ele. Eu acho que a melhor coisa talvez seja um sistema de bônus, pelo qual os estudantes que têm um diferencial negativo recebem um fator de compensação. Isso é uma questão que estaremos discutindo nos próximos meses.


CA – Como seria o sistema de bônus?

Aloísio Teixeira – 
Você ganha uma pontuação por ser negro ou por ter uma renda abaixo de uma determinada linha de corte ou por estudar na rede pública estadual. Você receberia 10%, 20% ou 30% dos pontos que você fez na prova para se equiparar aos demais, que estudaram nas melhores escolas do Rio de Janeiro. Para que isso seja eficaz, esse bônus não pode ser o mesmo para todos os cursos.


CA – Qual é a solução definitiva para garantir o acesso da população ao Ensino Superior?

Aloísio Teixeira –
 Os nossos problemas são as diferenças de renda e de qualidade nas redes de ensino. As universidades brasileiras estão tentando minimizar esses problemas. O fundamental é a universidade crescer. Se todos os jovens pudessem entrar na universidade, ela teria a cara do povo brasileiro. Ao fazer esses experimentos, a gente não perde a consciência de que a luta é para expandir a universidade, para que todos possam ter acesso a ela e para que ela possa se tornar um direito da cidadania. 

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
- |